quinta-feira, 21 de agosto de 2008

MATO GROSSO

O nome do seu novo disco é "Mato Grosso", mas as músicas não têm nenhuma relação aparente com seu Estado de Origem. Por que o título, então? - É "Mato Grosso" no sentido de literal do termo: mata espessa, mato grosso mesmo. Tinha na cabeça a imagem das florestas da minha terra, com grandes árvores, pássaros, flores. Só que a gente foi fotografar em plena estação das chuvas, o Pantanal estava alagado, daí a gente - eu e o Luiz Fernando, o fotógrafo - resolvemos curtir esse lado de água mesmo, as algas... quer dizer, no fim, o que está na capa do disco é mato fino, e não grosso. Mas não tem nenhuma relação com o Estado. O repertório é o mais variado possível exatamente como eu quis. Em comum com o título, talvez só tenha mesmo esse bom humor, esse lado meio de duplo sentido malicioso, porque mato grosso, assim, isolado, é um pouco malicioso, também. Esse disco novo tem deliberadamente esse lado malicioso, esse jogo de duplo sentido que é bem popular. Não é todo assim é claro, mas a tônica foi essa mesmo. É proposital - a gente foi procurar coisas já gravadas que tinham esse clima, essa malícia popular, mas sempre com a preocupação de não perder qualidade, de não ser grosseiro, de ser uma brincadeira, mesmo. Os arranjos são muito cuidados não fica uma cópia da coisa nordestina com zabunba e acordeão, tem um outro tratamento. Porque eu não queria que viessem com a história de que eu tinha descoberto um filão, uma fórmula, com o sucesso de "Homem com H". (Jornal Folha de São Paulo, setembro de 1982).
Em outubro de 1982 Ney lança oficialmente o Mato Grosso, prova definitiva da sua capacidade de fazer coisas nova. Samba, xote, rock, moda de viola são alguns dos ritmos escolhidos pelo universal Ney para fazer o melor trabalho de sua carreira. Um disco alegre e malicioso. Um álbum onde a elaboração fica mais a cargo dos arranjos do que da interpretação (o regente e arranjador norte-americano Erich Bulling foi especialmente trazido dos Estados Unidos pelo produtor Mazola para cuidar da maioria das faixas. E, como se não bastasse, ainda tem a presença de Cesar Camargo Mariano nas faixas restantes).

A interpretação de Ney nesse disco surpreende pela simplicidade. E, por ser simples, é perfeita. Prova máxima disso é a recriação, em arranjo bem abolerado, de "Tanto Amar", de Chico Buarque. Capaz de harmonizar um repertório que vai do samba ao rock, Ney inseriu nesse álbum apenas composições alegres de bons autores desconhecidos. Dos famosos, além de Chico Buarque, Ney incluiu Rita Lee, Moraes Moreia e Sá e Guarabyra. Os destaques de Mato Grosso ficam com "Uai, Uai" (Rita Lee e Roberto de Carvalho), "Por debaixo dos Panos" (Ceceu) e "Jonny Pirou" (Chuck Berry, versão de Leo Jaime e Tavinho Paes). Uma menção especial deve ser feita à capa do disco. Nela Ney aparece vestido apenas uma sumária tanga cor de pele, completamente submerso e relaxado em água cristalina. Uma idéia tão simples e criativa, quanto o próprio disco. Num disco tão cheio de destaques, há que ressaltar ainda o desempenho dos músicos de primeiro time, notamente Pedrão (baixo), Netinho (clarinete) e Leo Gandelman (sax-alto). Mato Grosso, que já foi considerado pela crítica o melhor tabalho de Ney, vai agradar a todos, mais principalmente aqueles que gostam de dançar. é um pique só, do começao ao fim. (Revista Música, outubro de 1982, Neusa Ribas).

O SHOW


Ney Matogrosso estréia no Canecão/RJ em 20 de outubro de 1982. "Hoje, às 22h, Ney Matogrosso inicia mais uma curta temporada no Canecão (somente até o próximo dia 7). Dirigido pelo mesmo Amir Haddad, com cenografia de Marcos Flasman (o mesmo so show do ano passado, também) e uma banda de 13 músicos, Matogrosso mostrará basicamente as composições de seu último LP, que tem o mesmo título - Mato Grosso - do espetáculo. De uma abertura no meio do cenário - secundado por muita fumaça, sob apenas um foco de luz - Ney Matogrosso surgirá com um visual "chocante", cocar, colares, pulseiras, para uma primeira parte indígena-rural. No palco forrado de juta, pois na maior parte cantará de pés descaços, ele inciará o espetáculo com Metamorfose Ambulante (Raul Seixas), passando pela emocionante Notícias do Brasil (Milton Nascimento), Uai Uai (Rita Lee - Roberto de Caravalho), o forró eletrônico Primeiro de Abril (Antônio Brasileiro-Antonio Hernandes), e encerrando essa primeira parte com Promessas Demais (Zeca Barreto-Moraes, Moreira-Paulo Lemiski), trilha de abertura da novela das seis, da Globo, Paraíso. A segunda parte é romântica, com luz suave. Vestido apenas com uma calça branca, botas também brancas, olhos pintados, ele interpretará Gilberto Gil, em Deixar Você,

Chico Buarque, em Tanto Amar e Sá e Guarabira, em Aquela Fera, as duas útlimas do recente Lp. Nessa segunda parte, o cantor entrará pela passarela á direita da platéia, a mesma usada por Maria Bethânia, anterior atração do Canecão. Mas é na terceira e última parte, com uma roupa das mais bonitas - toda em dourado brilhante, muitas penas - que o espetáculo mostrará o cantor em seu melhor momento, contando com a participação dos 13 músicos que formam a sua atual banda. A maliciosa Napoleão (Luli-Lucina) e Debaixo dos Panos (Ceceu) são contagiantes e o rock de Chuck Berry, em versão de Leo Jaime e Tavinho Paes, Honny Pirou, está ótimo. Tudo para o apoteótico final com o samba Alegria Carnaval (jorge Arão-Nilton Barros), mostrando o cantor integrado à banda, tocando um bumbo. O diretor Amir Haddad, em seu segundo trabalho de direção com o Cantor, define a atual montagem como "um show que vai mais longe do que o outro". - o anterior era uma revisão, um balanço. E qualquer pessoa que faz um balanço vai adiante. Quando nos reunimos pela primeira vez, não tínhamos a menor idéia do espetáculo, tínhamos somente um disco: o Mato Grosso, nosso ponto de partida para um espetáculo alegre. (Jornal do Brasil, Caderno B, 20 de outubro de 1982, Diana Aragão).

ROTEIRO MUSICAL

Metamorfose Ambulante

Notícias do Brasil

Uai, Uai

1º de Abril

Promessas Demais

Não Faz Sentido

Deixar Você

Tanto Amar

Aquela Fera

Andar com Fé

Rosa de Hiroshima

Napoleão

Por debaxo dos panos

Jonny pirou

Alegria Carnaval

Tema - Instrumental

Músicos

Pisca - Guitarra

Ricardo Cristaldi - Teclado

Paulo Maurício Esteve - Teclado

Pedrão - Baixo

Lino - Sax e Flauta

Magrão - Sax e Flauta

Bangla - Sax

Nonô - Trumpete

Bocato - Trumpete

Sergio Della onica - Bateria

Chacal - Percussão

Sergio Boré - Percussão



Um comentário:

Roby & Roger disse...

Como eu faço pra me comunicar com vc, sou um pesquisador de história e trabalho com a linha de história cultural e meu objeto de estudo é a performance de ney matogrosso, se puder passar seu email, agradeço desde já!