terça-feira, 6 de novembro de 2012

Depois de um tempo sem trabalhar no blog, vamos continuar contando a história desse cantor maravilhoso que sempre canta e nos encanta, deixei a convocação dos amigos para ajudar nesta tarefa deliciosa, porém, com muito chão pela frente ainda. O melhor é sempre retomar a tarefa e continuar contando e registrando essa trajetória tão intensa de um cantor brasileiro, totalmente diferente de todos que já surgiram e que com 71 anos, com uma voz apuradíssima e bela, continua nos encantando e olha que já vem novo show e disco, então vamos em frente que tem muito o que contar... abração a todos e conto com sugestões e críticas (se possível favoráveis...) para continuarmos esse delicioso trabalho. Abração a todos.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

POIS É

"Sem ser deselegante, Ney Matogrosso praticamente desprezou a festa que sua gravadora, a Ariola, promoveu para lançar seu novo disco "...Pois é", que marca uma década de carreira, afirmando que está "simplesmente vivendo mais um ano que por acaso é o décimo, mas não tem nada de especial, além do fato de eu continuar na luta".
A concorrida entrevista animada por vinhos e queijos e ilustrada com um vídeo-teipe composto de depoimentos e cenas dos melhores momentos da carreira de Ney - entre eles a histórica apresentação dos Secos e Molhados no Maracanãzinho - , ocorreu no restaurante do Regine´s e contou com a presença de mais de cem pessoas.
- Não tenho meta para o futuro - disse Ney -, assim como não tinha quando iniciei minha carreira. No começo, as pessoas me diziam: "Aproveita que você tem no máximo dez anos pela frente". Já passei dos dez e continuo dando no couro. Estou com 42 e me sinto muito bem. Sei que vai chegar uma hora em que fisicamente não vou poder fazer o que faço agora. Mas isto não me, grila. A velhice não me assusta. Sei que vou continuar tendo uma atividade.
De contrato novo, que lhe permite gravar um disco a cada 15 meses, "se quizer" - o anterior, como o da maioria dos artista obrigava-o a ter um álbum gravado a cada 12 meses - e com a cabeça "bem mais leve", Ney disse que não quer mais viver os "momentos tensos" que teve até um passado muito recente:
- Eu quero ter prazer. Estava muito tenso com essa coisa toda que jogaram em cima de mim: A necessidade de criar um produto para vender muito e gerar milhões de cruzeiros. Não vou ficar preocupado se vai vender ou não. Esse negócio estava ficando muito chato. Sei que consegui mudar condições contratuais porque sou um produto valorizado e posso impor condições. Se não gravasse na Ariola iria partir para a gravação independente. Os artistas que não estão satisfeitos com essa situação devem dar um basta. Não é possível continuar assim.
Sobre o novo disco, ao mostrar as diferenças com o trabalho anterior, o intérprete de "Calúnias", uma divertida adaptação de "Tell me once again" ("Telma, eu não sou gay"), uma das músicas que mais toca nas rádios, disse que o atual é "mais consistente".
- O "Matogrosso" me pareceu um tanto ralo. Foi um disco bem feito, bem mixado, bem transado, mas faltou consistência no texto, coisa que acho que consegui obter agora.
Isso foi conseguido, segundo Ney, não só com a regravação de "Coração Civil" (Milton Nascimento/Fernando Brant), que fala da utopia de se viver com liberdade e justiça, como também com a inédita "Fogo e Risco" (Marina Lima/Antonio Cícero), relatando coisas do amor e seus caprichos. Como já dissera em outras entrevistas, Ney repetiu que prefere o trabalho no palco, embora tenha-se acostumado a conviver com o estúdio:
- Nos shows, o que impera é a emoção e as falhas, quando registradas em disco, tem que ser perdoadas. No disco gravado em estúdio, onde a gente pode repetir e repetir até acertar, não podem ocorrer deslizes. Quero sempre o melhor. A crise não deve ser motivo para se fazer algo de qualidade inferior. Se o artista quer ter um bom produto, tem que gastar muito na produção, para obter o melhor som, a melhor iluminção, a melhor mesa de cortes ...". (São Paulo, Jornal O Globo).
...Pois É, aberto, como não poderia de ser, com um put-pourri de sucessos de sua carreira, que inclui de "Sangue Latino", dos tempos iniciais, a "Homem com H", um de seus últimos retumbantes hits. Um disco que, a julgar pela sua qualidade técnica e pelo seu repertório, não apenas é o melhor dos Lps gravados por ele, como também poderá repetir o sucesso de vendas de seus dois anteriores, Ney e Matogrosso.
Aliás, foi com Ney, de 81, que as coisas começaram a mudar realmente para o artista. Ele estava na época saindo da WEA, gravadora na qual lançou três discos, cujos índices de vendagem demostraram um declínio sensível, e vinha da apresentação de seu espetáculo menos concorrido: Seu Tipo, onde se apresentava discretamente, apenas com terno e gravata (no fundo, mais uma fantasia), na tentativa de valorizar mais o seu lado cantor.
Transferindo-se então para a Ariola, a tendência descente modificou-se radicalmente, e seu novo disco chegou aos 320 mil vendidos, principalmente por causa do estouro da regravação de "Homem com H" (originalmente registrada pelo Trio Nordestino). Por outro lado, a excursão-monstro, que levou seu espetáculo daquele ano a numerosas cidades do País, caracterizou-se por apoteóticas apresentações para platéias astronômicas, de até 60 mil espectadores. O show, no qual voltava a exibir suas costumeiras e metamorfósicas fantasias, com sua dança sensual e hipnotizante, foi o mais bem realizado de sua carreira até então, e ganhou o prêmio de melhor do ano, da crítica especializada.
Essa reviravolta quantitativa e qualitativa em seu trabalho colocou seu nome - até ali respeitado, sim, mas de sucesso médio - dentre os consagrados da MPB. Eleito pelo público nacional, transformou-se numa sensação solicitada em todo lugar. Matogrosso, o disco e show do ano seguinte(82), só veio consolidar tal posição. (Revista Música - Ronne Carlos).
NÃO HOUVE SHOW DO DISCO.

MUTIRÃO DO ROCK

Em outubro de 1983, Ney preparava seu novo disco para lançamento ainda nesse mesmo mês. Todas as músicas já haviam sido gravadas e mixadas, porém antes do disco ficar pronto, ele tinha aceitado a participação do disco de João Penca e seus Miquinhos amestrados, com a música Telma eu não sou gay.
A música foi uma explosão de sucesso o que fez com que a gravadora exigisse que Ney a incluisse no novo disco, sob pena de recolher o disco dos Miquinhos, caso isso não acontecesse.
Por esse motivo a música foi incluida no disco a contra gosto de Ney, pois o disco estava todo pronto e ela não correspondia ao contexto.
Ao lado a matéria veiculada na impressa na época de forma maquiada, não retratando a realidade do que realmente aconteceu.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

MATO GROSSO

O nome do seu novo disco é "Mato Grosso", mas as músicas não têm nenhuma relação aparente com seu Estado de Origem. Por que o título, então? - É "Mato Grosso" no sentido de literal do termo: mata espessa, mato grosso mesmo. Tinha na cabeça a imagem das florestas da minha terra, com grandes árvores, pássaros, flores. Só que a gente foi fotografar em plena estação das chuvas, o Pantanal estava alagado, daí a gente - eu e o Luiz Fernando, o fotógrafo - resolvemos curtir esse lado de água mesmo, as algas... quer dizer, no fim, o que está na capa do disco é mato fino, e não grosso. Mas não tem nenhuma relação com o Estado. O repertório é o mais variado possível exatamente como eu quis. Em comum com o título, talvez só tenha mesmo esse bom humor, esse lado meio de duplo sentido malicioso, porque mato grosso, assim, isolado, é um pouco malicioso, também. Esse disco novo tem deliberadamente esse lado malicioso, esse jogo de duplo sentido que é bem popular. Não é todo assim é claro, mas a tônica foi essa mesmo. É proposital - a gente foi procurar coisas já gravadas que tinham esse clima, essa malícia popular, mas sempre com a preocupação de não perder qualidade, de não ser grosseiro, de ser uma brincadeira, mesmo. Os arranjos são muito cuidados não fica uma cópia da coisa nordestina com zabunba e acordeão, tem um outro tratamento. Porque eu não queria que viessem com a história de que eu tinha descoberto um filão, uma fórmula, com o sucesso de "Homem com H". (Jornal Folha de São Paulo, setembro de 1982).
Em outubro de 1982 Ney lança oficialmente o Mato Grosso, prova definitiva da sua capacidade de fazer coisas nova. Samba, xote, rock, moda de viola são alguns dos ritmos escolhidos pelo universal Ney para fazer o melor trabalho de sua carreira. Um disco alegre e malicioso. Um álbum onde a elaboração fica mais a cargo dos arranjos do que da interpretação (o regente e arranjador norte-americano Erich Bulling foi especialmente trazido dos Estados Unidos pelo produtor Mazola para cuidar da maioria das faixas. E, como se não bastasse, ainda tem a presença de Cesar Camargo Mariano nas faixas restantes).

A interpretação de Ney nesse disco surpreende pela simplicidade. E, por ser simples, é perfeita. Prova máxima disso é a recriação, em arranjo bem abolerado, de "Tanto Amar", de Chico Buarque. Capaz de harmonizar um repertório que vai do samba ao rock, Ney inseriu nesse álbum apenas composições alegres de bons autores desconhecidos. Dos famosos, além de Chico Buarque, Ney incluiu Rita Lee, Moraes Moreia e Sá e Guarabyra. Os destaques de Mato Grosso ficam com "Uai, Uai" (Rita Lee e Roberto de Carvalho), "Por debaixo dos Panos" (Ceceu) e "Jonny Pirou" (Chuck Berry, versão de Leo Jaime e Tavinho Paes). Uma menção especial deve ser feita à capa do disco. Nela Ney aparece vestido apenas uma sumária tanga cor de pele, completamente submerso e relaxado em água cristalina. Uma idéia tão simples e criativa, quanto o próprio disco. Num disco tão cheio de destaques, há que ressaltar ainda o desempenho dos músicos de primeiro time, notamente Pedrão (baixo), Netinho (clarinete) e Leo Gandelman (sax-alto). Mato Grosso, que já foi considerado pela crítica o melhor tabalho de Ney, vai agradar a todos, mais principalmente aqueles que gostam de dançar. é um pique só, do começao ao fim. (Revista Música, outubro de 1982, Neusa Ribas).

O SHOW


Ney Matogrosso estréia no Canecão/RJ em 20 de outubro de 1982. "Hoje, às 22h, Ney Matogrosso inicia mais uma curta temporada no Canecão (somente até o próximo dia 7). Dirigido pelo mesmo Amir Haddad, com cenografia de Marcos Flasman (o mesmo so show do ano passado, também) e uma banda de 13 músicos, Matogrosso mostrará basicamente as composições de seu último LP, que tem o mesmo título - Mato Grosso - do espetáculo. De uma abertura no meio do cenário - secundado por muita fumaça, sob apenas um foco de luz - Ney Matogrosso surgirá com um visual "chocante", cocar, colares, pulseiras, para uma primeira parte indígena-rural. No palco forrado de juta, pois na maior parte cantará de pés descaços, ele inciará o espetáculo com Metamorfose Ambulante (Raul Seixas), passando pela emocionante Notícias do Brasil (Milton Nascimento), Uai Uai (Rita Lee - Roberto de Caravalho), o forró eletrônico Primeiro de Abril (Antônio Brasileiro-Antonio Hernandes), e encerrando essa primeira parte com Promessas Demais (Zeca Barreto-Moraes, Moreira-Paulo Lemiski), trilha de abertura da novela das seis, da Globo, Paraíso. A segunda parte é romântica, com luz suave. Vestido apenas com uma calça branca, botas também brancas, olhos pintados, ele interpretará Gilberto Gil, em Deixar Você,

Chico Buarque, em Tanto Amar e Sá e Guarabira, em Aquela Fera, as duas útlimas do recente Lp. Nessa segunda parte, o cantor entrará pela passarela á direita da platéia, a mesma usada por Maria Bethânia, anterior atração do Canecão. Mas é na terceira e última parte, com uma roupa das mais bonitas - toda em dourado brilhante, muitas penas - que o espetáculo mostrará o cantor em seu melhor momento, contando com a participação dos 13 músicos que formam a sua atual banda. A maliciosa Napoleão (Luli-Lucina) e Debaixo dos Panos (Ceceu) são contagiantes e o rock de Chuck Berry, em versão de Leo Jaime e Tavinho Paes, Honny Pirou, está ótimo. Tudo para o apoteótico final com o samba Alegria Carnaval (jorge Arão-Nilton Barros), mostrando o cantor integrado à banda, tocando um bumbo. O diretor Amir Haddad, em seu segundo trabalho de direção com o Cantor, define a atual montagem como "um show que vai mais longe do que o outro". - o anterior era uma revisão, um balanço. E qualquer pessoa que faz um balanço vai adiante. Quando nos reunimos pela primeira vez, não tínhamos a menor idéia do espetáculo, tínhamos somente um disco: o Mato Grosso, nosso ponto de partida para um espetáculo alegre. (Jornal do Brasil, Caderno B, 20 de outubro de 1982, Diana Aragão).

ROTEIRO MUSICAL

Metamorfose Ambulante

Notícias do Brasil

Uai, Uai

1º de Abril

Promessas Demais

Não Faz Sentido

Deixar Você

Tanto Amar

Aquela Fera

Andar com Fé

Rosa de Hiroshima

Napoleão

Por debaxo dos panos

Jonny pirou

Alegria Carnaval

Tema - Instrumental

Músicos

Pisca - Guitarra

Ricardo Cristaldi - Teclado

Paulo Maurício Esteve - Teclado

Pedrão - Baixo

Lino - Sax e Flauta

Magrão - Sax e Flauta

Bangla - Sax

Nonô - Trumpete

Bocato - Trumpete

Sergio Della onica - Bateria

Chacal - Percussão

Sergio Boré - Percussão



terça-feira, 19 de agosto de 2008

GRANDE ESPETÁCULO - GRANDES NOMES - NEY SOUZA PEREIRA....


O Ano de 1981 foi significativo para a carreira de Ney Matogrosso. A sua tournée é o maior sucesso de público e crítica. Neste ano a Rede Globo, lança os musicais da série Grandes Nomes, dos quais constam Gal Costa, Caetano Veloso, Elis Regina e outros e Claro NEY SOUZA PERERIA.
Espetáculo Sem Censura ...
Com Marília, cantando Taí e Eu dei, Ney Matogrosso encerra o espetáculo, que tem ainda Bandido Corazón, Bandoleiro, Folia no Matagal, Amor Objeto, Deixa a Menina, Ribeirão, Carinhoso, Viajante, Planeta Sonho, Morena de Angola, Homem com H e Tic Tac do Meu Coração, divididos entre os cinco blocos. Sem dúvida um espetáculo vibrante, extrovertido, uma retomada do trabalho inicial de Ney, onde predominam cores, roupas ousadas e muita sensualidade.
"Fiz um espetáculo sem censura, como se estivesse no teatro. Aliás, acho que não cabe a mim esse tipo de preocupação. Não vejo nada demais em mostrar o meu corpo. Quem acha, precisa voltar a realidade. Que reprima a própria sexualidade, tudo bem, só não tem o direito de tentar reprimir a dos outros". Existem diferenças fundamentais entre Ney Souza Pereira - que dá nome ao programa - e Ney Matogrosso. Na entrevista, por exemplo, quem aparece é o Souza Pereira, calmo, sem maquilagem, roupa discreta, voz pausada, pensamentos curtos e claros. Quem estará no vídeo no dia 4 de setembro é o outro: livre, solto, com requebros marcando as frases, esbanjando sensualidade. "Realmente, o meu nome não tem nada a ver com o programa. Mas é uma regra. Então, vá lá. Tudo o que será visto não é próprio do Souza Pereira, mas do Matogrosso que leva isso às últimas consequências em seu comportamento cênico. Não digo que ele seja um presonagem, já que faz parte de mim. Talvez a melhor definição é que ele é o Souza Pereira acintosamente solto, liberto". Apesar desta vitalidade ser a tônica do seu show e do espetáculo da televisão, nas duas situações os números mais aplaudidos são, respectivamente Viajante e Carinhoso, cantados introspectivamente, somente com um violão como acompanhamento."Eu acho ótimo que isso aconteça. As pessoas estão começando a perceber que, independente de me sacudir, me rebolar, eu canto. Esses são números que só dependem da minha voz. Sei que, pra muita gente, eu não canto, faço papagaiada. Poucos prestam atenção que, por trâs de tudo - ou melhor, antes de tudo -, o que me mobiliza é o ato de cantar, que adoro. Minha voz tem que estar sempre em primeiro plano, embora muitos achem que eu sou simplesmente uma alegoria."
O show foi ao ar no dia 04 de setembro de 1981.





sexta-feira, 15 de agosto de 2008

NEY MATOGROSSO - 1981


No segundo semestre de 1980, Ney faz sua primeira tournée na Argentina. Solidificando uma posição até então alcaçada apenas com a constante execução dos seus discos e as críticas favoráveis dos principais jornais e revistas, principalmente a edição dominical de clarin. "Começei a me surpreender na entrevista coletiva - diz Ney -, onde os repórteres sabiam quase tudo a respeito do meu trabalho. Depois eu é que fiquei supreso com a reação do público argentino, participando intensamente de tudo. Me senti em casa." Quem faz sucesso no mercado argentino tem grandes possibilidades de repetir o êxito nos demais países do mercado latino-americano e espanhol. Por isso, a Ariola nova gravadora de Ney Matogrosso, deverá lançar em janeiro de 1981 um compacto simples com as músicas Bandido Corazón, de Rita Lee, e Bandoleiro, de Luli e Lucina em Espanhol. Por outro lado, Ney está voltado para uma conquista mais sólida do mercado nacional. Estréia pela Ariola com o compacto das músicas Folia no Matagal , de Eduardo Dusek e Luís Carlos Góis, e Seu Valdir, de Marco Polo, música essa que foi censurada com recolhimento de alguns discos, mas logo resolvido. "Meu primeiro trabalho para a Ariola - acrescenta Ney - enfrentou um ligeiro problema com a Censura, logo solucionado. Mas não gosto de falar em Censura, prefiro falar em outras coisas." Como, por exemplo do seu primerio elepê para Ariola. Antes de definir o repertório desse disco, Ney pretendia cantar o universo do índio brasileiro, e estava pesquisando repertório através de fitas remetidas por autores. Tom Jobim, inclusive, escreveu Burziguim especialmente, mas que não pôde ficar no disco. Desistiu do projeto e ganhou de presente Amor Objeto, de Rita Lee e Roberto de Carvalho, e redescobriu, através da indicação de Mazzola Homem com H, música inclusive que não iria entrar no disco e show. E mesmo sendo um disco de miscelânea, Ney diz que representa um momento importante para sua carreira". (Revista Amiga, 1981, Reportagem de Paulo Macedo).
"Pela primeira vez eu fiz um show dirigido é bem isso, um show organizado. Por que eu sempre fazia um show de maneira muito unilateral. Isto é, de dentro pra fora aí surgiu o AMIR HADDAD para fazer a direção desse show. Eu conheço o Amir há muitos anos; ele sempre me observou e as coisas que dizia sempre me foram muito úteis. Foi por isso que eu o convidei para fazer a direção. Ele me perguntou qual seria o formato do show. E eu cheguei à conclusão de momentos fortes de outros shows meus, intercalados por músicas do meu último disco e outras coisas que eu gosto de cantar. Foi aí que surgiram os três bailarinos que funcionam como uma memória. Com relação a capa do disco, o gavião real é o maior passáro da América e sempre houve uma certa relação entre minha pessoa e esse pássaro. Muitas pessoas que transam o esoterísmo apontam uma relação entre ele e eu e, aí eu resolvi colocá-lo na capa desse disco, eu sempre quis que ele saísse da minha cabeça, inclusive no primeiro desenho que fizeram para a capa, parecia que ele estava pousado na minha cabeça (risos). Aí eu expliquei que não era nada disso, que era alguma coisa voando da minha cabeça para fora. É um símbolo muito partilar. O pensamento procurando um contato." (Revista Violão & Guitarra, nº 14, Ano II, 1981 - Ney Matogrosso)

O SHOW

Em 03 de junho de 1981, numa quarta-feira, Ney Matogrosso faz a sua priméria estréia no Canecão/Rj. Seria o início de uma das temporadas de maior sucesso em sua carreira. O Custo operacional foi de Cr$8,5 milhões bancados pelo próprio Ney. Enquanto produtor, Ney é responsável por uma enorme equipe 23 pessoas, desde Jorge David, o diretor de cena, até uma banda luxuosa, com nove integrantes, que forma a moldura perfeita para uma voz privilegiada em timbre, registro e flexibilidade."Toda a filosofia desse trabalho é cósmica."


O show foi criado para grandes espaços. Depois de um mês no Rio de Janeiro, a troupe se desloca para São Paulo, onde o Anhenbi será o palco das apresentações. A partir daí, serão três meses de viagem por todo Brasil, logo em seguida por uma tournée latino-americana, que começará na Argentina e terminará no México. (Uh Revista, Ney Matogrosso - Extroversão sem limites - Rio, 03 de junho de 1981).
Neste show o roteiro não se fundamenta exclusivamente no disco. Ele é mais uma retrospectiva da carreira de Ney Matogrosso, iniciada há nove anos, (nota da época), com o conjunto Secos & Molhados. Aliás a primeira música cantada no show é justamente Mulher Barriguda, que não foi grande sucesso do conjunto, mas é uma das preferidas de Ney. A idéia era abrir o show com o maior sucesso de Ney Matogrosso quando ele participava com João Ricardo e Gerson Conrad dos Secos & Molhados. Essa música era O Vira. Mas Ney excluiu a música "porque não sei se minha cabeça aguentaria a pressão", diz ele. A primeira música do show é Mulher Barriguda, as demais músicas que compõem o show são: Três Caravelas, Cubanacan, Bandido Corazon, Ribeirão, Amor Objeto, Bandoleiro, Mata Virgem, Deixa a Menina, Ando Meio Desligado, Terra Firme, Viajante, Homem com H (o seu maior sucesso no momento), Planeta Sonho, Folia no Matagal, Vida Vida e Morena de Angola.
As roupas usadas pelo cantor têm merecido comentários. Em uma das cenas, por exemplo, quase nu, apenas vestido com uma calça já chamada de "frente única" (as nádegas ficam completamente à mostra), o objetivo de Ney é, segundo ele, uma proposta de liberdade: "A única coisa que sempre me interessou, e isso eu estou conseguindo, foi deflagar um processo de liberação para todas as pessoas que estiverem atentas. Como o sexo é um grande tabu, ainda, as pessoas se escandalizam, porque vêem no palco a imagem de suas frustrações e seus medos. Sei disso e cada vez me esforço mais para escandalizar. Não acredito nos gestos tipicamente femininos ou masculinos. Essa história do homem ter atitudes de machão é bobagem. Não posso dizer que um cara veja o meu show e saia dali totalmente livre. Mas nada do que faço é inconsciente, no palco, em que a cena desaparece e passa a ser vida mesmo. Quem se ligar em minhas propostas já terá para si um bom ponto de partida".
E, neste show, o que fica mais patente é o ato de liberado de Ney Matogrosso em não se esconder. Pelo contrário, ele se mostra por inteiro, com toda a força numa adequação perfeita de corpo, alma e voz. Aos 40 anos, em plena forma tanto seu corpo quanto o espírito, Ney Matogrosso, nesses tempos de liberdade e, consequentemente de quebra de tabus, dá uma amplitude maior a sua arte enxertando-a com objetivos mais consistentes. A liberdade com ele se mostra é mais do que recursos cênicos, é antes de tudo uma palavra de ordem para a liberdade geral, como ele mesmo afirma.
Este estágio atravessado atualmente por Ney não significa propriamente uma mudança. Ele apenas, dentro de um processo natural de enriquecimento interior, tem acrescentado alguns valores ao seu universo íntimo. A espiritualidade - não confundir com misticismos -, por exemplo, é a sua mais recente descoberta. E sobre essa nova descoberta que ele fala, com um certo pudor, é claro, por temer os rótulos inevitáveis, os julgamentos apressados e incorretos. "Estou me preocupando agora com o espíito, algo que nunca me tocou antes. Mas, eu sabia que, na hora certa, iria me voltar para esse lado homem. Isso não significa que esteja ligado a qualquer religião nem que vá fazer um retiro. Significa apenas que estou procurando a essência humana, que é o que fica. O corpo acaba com a morte". Neste show, que é dirigido por Amir Haddad, a preoucpação foi mostrar os melhores momentos da carreira de Ney. Como não poderia deixar de ser, são relembrados os tempos em que ele era a estrela maior dos Secos & Molhados, o que viria a provocar a desintegração do conjunto, a música Cubanacan remete as lembranças do primeiro show solo, Bandido o sucesso que o desvinculou definitivamente do grupo, Bandoleiro do show Feitiço, algumas inéditas para o show e as suas novas músicas são mostradas no show". (Jornal TV Gazeta, Vitória, Graciano Dantas, 1981).
BANDA ARTE & CIA
Jorjão Barreto - Teclados e Vocal
Pisca - Guitarra e Vocal
Pedrão - Baixo e Vocal
Gerson Borges - Teclados, Percurssão, Vocal
Sergio Della Monica - Bateria
Chacal - Percussão
Chico Sá - Sax-flauta
Darcy Seixas - Trombone
Dom - Trumpete
Direção Musical - Arte & Cia
Bailarinos
Clermont Aguiar - Kiko Guarabira - Luis Carlos Nogueira
Roteiro Musical
Mulher Barriguda
3 Caravelas
Cubanacan
Bandido Corazón
Ribeirão
Amor Objeto
Bandoleiro
Mata Virgem
Deixa a Menina
Ando Meio Desligado
Terra Firme
Viajante
Homem com H
Planeta Sonho
Folia no Matagal
Vida Vida
Morena de Angola

segunda-feira, 7 de julho de 2008

SEU TIPO

O DISCO
Ainda em sua Turneé Feitiço em 1979, Ney ganha o prêmio de Melhor cantor do Ano. Em outubro de 1979 ele apresenta seu novo álbum - Seu Tipo... "Eu estava sentindo necessidade de uma mudança! E o primeiro sintoma foi a vontade de cortar o cabelo. Cortei com medo. E cortei aos poucos! Gostei.
Na verdade, tudo isso é uma inquetação que está comigo há um ano, exatamente desde o Feitiço. Falo do show. Tive que montá-lo em uma semana para cumprir um contrato de três meses no Nordeste. Não podia levar o mesmo show do ano anterior - Bandido. Então, bolei o Feitiço às pressas. Afinal, bastava fazer bem o que eu já sabia.
No final da temporada, eu estava mais parado, procurando uma saída... E a saída, acredito está aí. Um disco mais mais calmo e mais maduro. Até que enfim! As pessoas que estão esperando festa não vão gostar. Nesse disco tem até samba-canção. Não é mais romântico mas fala de amor. Tem uma coisa de dor-de-cotovelo, forte, é Dor Medonha de Fátima Guedes e tem uma canção de Jobim e Vincius, nova, chamada Falando de Amor. É o tema geral do disco embora eu toque em outros assunto, é o amor. Não é amor/paixão. É o amor de uma forma mais ampla. Tem uma versão que o Caetano fez de Nature Boy, linda! E tem Trapaça, de Herman Torres, Último Drama, de Mauro Kwitko (o mesmo de Mal Necessário). Tem Luli/Lucina, Joyce e a música que dá nome ao disco - Seu Tipo - de Eduardo Dusek e Luiz Carlos Góis. Ainda Regravei a Rosa de Hiroxima, arranjo de Joyce e uma música do João Ricardo - Tem Gente com Fome - em cima de um poema de Solano Trindade. O Disco é isso. Diferente sim. E acho que no tempo certo! Não pela minha idade. Digo mais pelo tempo de trabalho: sétimo ano de carreira e sétimo disco - um número forte, não é? Pela primeira vez estou de cara limpa! A maquilagem eu usava propositadamente para me esconder. Tinha medo que o Ney-público interferisse no Ney-indivíduo. Mas lentamente eu já vinha tirando isso. no próximo show - fevereiro provavelmente - vou usar um terno. Não porque finalmente eu tenha entrado nos eixos. Eu apenas vou usar o terno como uma fantasia, uma roupa como aquelas que eu usava na fase do bicho! O que aconteceu é que, com o tempo, fui amadurecendo, ficando mais seguro de mim. Não pretendo me maquilar também! Não sei como vai ser porque também nunca fiz um show sem maquilagem. Acho tudo isso meio desafio, para mim. Eu sempre me separo do Ney-no-palco! São duas coisas distintas! Mas agora, sinto que os dois vão se encontrar pela primeira vez... e quero ver o que vai acontecer! ... (Entrevista Revista Fatos e Fotos, reportagem de Lúcia Leme, novembro de 1979).

O Show

Em 27 de fevereiro de 1980 Ney estreia o show Seu Tipo no Teatro Carlos Gomes, Rio.


Ney pediu ao costureiro Hugo Rocha que desenhasse algo diferente, um terninho igual ao que a cantora Simone usou em seu recente show no Canecão. "Quero enxugar meu visual, mostrar que sou um cantor", é sua declarada intenção com o novo garda-roupa. Com o Teatro Carlos Gomes completamente lotado, Ney Matogrosso entra em cena e surpreende o público: o cantor surge vestindo um elegante terno branco, com colete e gravata. Durante as primeiras quatro músicas ele se mantém com o terno, aparecendo em seguida de malha. Momento de grande emoção foi registrado quando Ney declama o poema de Solano Trindade e Grande Otelo subiu ao palco para cumprimentá-lo pela belissima escolha. E depois mudando novamente de roupa atrás de um biombo no palco, canta a música Fala, e encerra o show com a música Um Índio.

Como era de se esperar Ney Matogrosso teve uma estréia apoteótica de seu show. Muita gente querendo entrar, expectativa geral, muitos aplausos no final. Depois do espetáculo, Ney convifou para seu camarim um grupo selecionado de amigos. O público, entretanto, não conteve sua empolgação e invadiu o camarim do cantor que recebia suado e sem camisa. Felicissimo: havia corbeilles da orta do teatro ao camarim.... (nota de jornal da época/fev. 1980)








Músicas

Seu Tipo - Eduardo Duseke e Luiz Carlos Gois
Coração Aprisonado - Luli e Lucina
O Seu Amor - Gilberto Gil
Ardente - Joyce
Não Há Cabeça - Ângela Ro Ro
Doce Vampiro - Rita Lee
Fala - João Ricardo/Luli
Encantado - Caetano Veloso
Barco Negro - Piratini/Caco Velho
Balada da Arrasada - Ângela Ro Ro
Ando Meio Desligado - Rita Lee/Arnaldo Batista
Falando de Amor - Tom Jobim/Vinícius de Moraes
Último Drama - Mauro Kwitko
Me Roi - Luli/Lucina
Napoleão - Luli/Lucina
Marina Marinheira - Geraldo Vandré
Tem Gente com Fome - Solano Trindade
Cachorro Vira Lata - Alberto Ribeiro
Rio de Janeiro - Ari Barroso
Um Índio - Caetano Veloso

Músicos

Grupo Terceiro Mundo
Jorge Luiz de Carvalho (Jorjão) - baixo, violão e voz
Jurim Moreira (Jurim) - Bateria
Márcio Cotti Miranda (Marcinho) - teclados, vocal
José Paulo Souza (Zepa) - , guitarra, viola
Luiz Paulo Guanabara (Luiz Paulo) - sopros
Sidney Martins Moreira (Cidinho) - percursão