quinta-feira, 26 de junho de 2008

FEITIÇO


O DISCO

"Essa capa buliçosa, provocativa, Ney? Proposital artifício para chamar a atenção? (Porque a crítica tem dedicado mais espaço a nudez de Ney que ao trabalho que exibe no disco).

- Olha, não vou negar, nem é do meu feitio, você sabe: Eu sabia que ia dar o que falar. Sabia, mesmo, mas é bom, não é? Eu mesmo me surpreendi, quando vi a foto ampliada. Enquanto era um slide pequeno, tudo bem, mas não achei nada demais. Mas depois, aquela fotona... Eu pensei: ih... Aí, eu mesmo me surpreendi, imaginei logo o que não ia ser com as outras pessoas. Mas também, acho que já deviam estar mais ou menos esperando por isso. Que mais me faltava fazer? Só ficar nu, mesmo.

Ney diz também que o projeto visual da capa foi mais uma feliz coincidência que o fruto de um planeijamento demorado: sua amiga a fotografa Mariza Alvarez, vinha há anos tentando marcar com Ney uma sessão de poses para um ensaio de nus, "coisa que eu sempre quis fazer. Quando chegou a hora de escolher a capa do disco, pensei logo: pronto, taí a oportunidade de fazer os tais nus." As sessões de pose foram longas, trabalhosas.

- No começo, tínhamos mil idéias, mas nada dava certo, visualmente acabou saindo uma coisa inteiramente diferente daquilo que a gente tinha planeijado, no início. Mas ficou ótimo. Eu adoro. (Jornal do Brasil - Janeiro de 1979).

Feitiço é uma nova fase na vida e na carreira de Ney Matogrosso, depois de anos de contrato com a Continental, Ney estréia na WEA e inicia a parceria com o produtor Mazola, que lhe proporcionou muitos sucessos em sua carreira. É também sua estréia em mixar um disco todinho nos Estados Unidos, em Los Angeles, e na época ele ficou muito impressionado com a liberdade que curtiu por lá.

O SHOW



O show está montado desde a época de Bandido. "Logo que eu montei o show, tive que viajar. Este show é algo assim como a entressafra. É o meio-termo entre o Bandido e O Feitiço. Não é exatamente um show para teatro. É mais para clubes. Acontece que quando eu estava procurando um teatro no Rio, para lançar o Feitiço, soube que o Teatro Alasca estava para ser inaugurado. Fui até lá e gostei muito. É muito bem adaptado, sem falar que estamos em casa. A Galeria Alasca é verão. Vou fazer esta temporada de 3 de janeiro (1979) ao dia 23, porque adoro trabalhar no Rio, no verão."



O show está dividido em duas partes: a primeira é teatro de revista, onde Ney se descontrai e libera todo o seu Feitiço. Na segunda parte, Ney parte para um mini-concerto. As músicas são todas do disco Feitiço e mais algumas de novos compositores, como ricardo Pavão e Mauro Kwitko. "Este show não tem uma linha definida, mas pretende levantar o público das cadeiras."

Curiosidade

"A Censura, o Nu e Ney Matogrosso - Com a notícia de que a censura liberará a Playboy e Playmen americanas e outras importadas para circularem no Brasil, como todo seu arrojo em fotografias (as revistas brasileiras ficarão tímidas diante de tanta liberalidade), muitos já se preparam para enfentar a forte concorrência de vendagens que se aproxima, caso a censura confirme a autorização. O panorama é simples e compreensível se não for desta forma: liberando as americanas é justo que se libere também as fotos para as brasileiras essencialmente a regiao pubiana da mulher. Se assim não for, não haverá justiça. O Cantor Ney Matogrosso, por exemplo assume o pioneirismo em ser o primeiro homem a se fotografar nu (a foto é da capa de seu último disco e foi até distribuida em forma de calendário de bolso). Os outros ângus de Ney, claro, foram devidamente censurados." (Nota de uma revista da época).
Portanto, após a liberação Ney foi o primeiro homem a ser fotografado nu.

MÚSICAS
Yes, Nós Temos Bananas - João de Barro/Alcir Pires Vermelho
Vendedor de Bananas - Jorge Ben
Bandoleiro - Luly e Lucina
Sensual - Tuca/Belchior
Fé Menino - Gilberto Gil
Dos Cruces - Carmelo Larrea
Tic Tac - Alcir Pires Vermelho/Walfrido Silva
Circo Marimbondo - Milton Nascimento/Ronaldo Bastos
Jardins da Babilonia - Rita Lee/Lee Marcuci
Tema dos Músicos
Você não entende Nada - Caetano Veloso
Foi Assim - Paulo André/Raui Barata
Mal Necessário - Mauro Kwitko
Bandido Corazon - Rita Lee
Rosa de Hiroshima - Vinícius de Morais/Gerson Conrad
Carinhoso - Pixinguinha
Não Existe Pecado ao Sul do Equador - Rui Guerra/Chico Buarque

quarta-feira, 25 de junho de 2008

BANDIDO


"Um dia, Ney Matogrosso pediu uma música para Rita Lee. E ela: "Mas eu nunca fiz fiz uma música assim por encomenda." E ele: "Pois então faça uma agora." E ela fez "Bandido Corazón". Para o espanto dele: "Mas é a minha cara. É a música que eu teria feito. O jeito que eu falaria da minha vida."
Daí começou o "Ney Matogrosso Bandido". Inicialmente, apenas um show em cima do gênero.
Foi então que em janeiro de 1977 que 2000 presos da Penitenciária Lemos de Brito, no Rio de Janeiro, numa enquete para escolher quem faria o show de encerramento do festival de música promovido por eles, escolheram o que representava a liberdade: Ney Matogrosso.
Com a idéia de "Bandido" já na cabeça, o convite não poderia deixar de ser mais oportuno.
Ney subiu no palco; na plateia 2000 pessoas com os olhos arregalados prestando muita atenção naquele corpo magro, que o parava de se mexer como uma serpente, e naquela voz fina e afinada. Alguns comentários: "Parece a Carmem Miranda." E Ney foi cantando cada vez com mais liberdade. "Canta 'Cubanacan'?" E por que não? O show foi o maior sucesso. A partir dessa experiência com os presidiários, veio toda a idéia do show e de um novo disco". (Revista Música - a nova impressão do som nº 7 - 1978).
"Bandido foi o contraponto do Homem de Neanderthal. O luxo se transformou em simplicidade, e o cenário tomou forma com objetos que Ney levou de casa: um espelho oval enorme, um baú, uma rede peluda e um biombo pequeno. De um cenário antigo do Teatro Ipanema, pegou emprestado uma árvore, que acabou virando o grande hit da composição cênica: ele surgia detrás da árvore, tocando castanholas. Quando saiu do Ipanema, mandou fazer uma igual, porque o teatro não pôde emprestar a árvore que, até então, estava lá abandonada.
O sucesso de Bandido revelou-se proporcional á simplicidade: enorme. Liberto da carga que se impôs no Homem de Neanderthal (de provar que era capaz), Ney relaxou e conseguiu e conseguiu curtir o prazer que sentia em cantar e se relacionar, de maneira menos agressiva, com o público. O sorriso apareceu no rosto, simbolizando talvez o verdadeiro início da sua carreira: até hoje, ele dedica um carinho todo especial ao Bandido, por tê-lo desvinculado definitivamente do estigma de ex-Secos & Molhados. A partir do show, passou a ser visto, individualmente, como Ney Matogrosso - um artista com características próprias e com uma trajetória que veio atraindo, com o tempo, faixas cada vez mais amplas de público. " (Denise Pires Vaz - Um cara meio estranho - pag. 63).

Roteiro Musical:
Airecillos (Marlui Miranda)
Aqui e Agora (Luli)
Usina de Prata (Rosinha de Valença)
Bandido Corazon (Rita Lee)
Paranpanpam (De Karlo)
Cante uma Canção de Amor (Odair José)
Gaivota (Gilberto Gil)
Mulheres de Atenas (Augusto Boal/Chico Buarque)
Trepa no Coqueiro (Ary Kerner)
Prá Não Morer de Tristeza (Caboclinho/João Silva)
Com a Boca no Mundo (Rita Lee/Lee marcucci/Luiz e Carlini)
Retrato Marron (Rodger Rogério/Fausto Nilo)
Postal de Amor (Raimundo Fagner/Fausto Nilo/Ricardo Bezerra)
A Lua Girou, Girou (Domínio Público)
Pássaro Proibido (Caetano Veloso/Maria Bethânia)
San Vicente (Milton Nascimento/Fernando Brant)
Seu Waldir (Marco Polo)
MÚSICOS
Elber Bedaque - Bateria
Jorge Carvalho - Baixo
Roberto de Carvalho - Guitarra
Jorge Olmar - Violão e Viola
Marcelo Salazar - Percussão
Elias S. Mizrahi - Teclados